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Sexualidade na EM

By 2024-03-19 Março 21st, 2024 No Comments

O direito a uma vida sexual feliz

Poder desfrutar de uma vida sexual saudável faz parte da noção de “viver bem” para muitos de nós. As pessoas com esclerose múltipla não são exceção, sobretudo porque esta é uma doença diagnosticada maioritariamente em idade jovem adulta e sexualmente ativa. A EM pode influenciar de forma significativa o bem-estar da pessoa e levá-la a evitar com regularidade a sexualidade. Esta situação pode agravar o stress e a ansiedade, não devendo ser subestimada. Explorando um tema que, para muitos, pode ainda ser um tabu, entrevistámos o Dr. Nuno Marques, psicólogo clínico e coordenador de Neuropsicologia do Campus Neurológico de Lisboa (CNS).

Dr. Nuno Marques – CNS

 

Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta desde 2006 e Mestre em Sexualidade Humana desde 2012, Nuno Marques tem procurado, ao longo do seu percurso e designadamente enquanto psicólogo clínico no CNS desde 2014, ajudar pessoas com esclerose múltipla (PcEM) e outras doenças neurodegenerativas a controlarem os efeitos negativos destas patologias, com o objetivo de alcançarem uma vida mais adaptada e feliz.

“A resolução das problemáticas associadas à sexualidade contribui para a melhoria da saúde das PcEM de forma global.”

Jovens com EM questionam mais sobre sexualidade

Lembrando que a sexualidade é um dos pilares da nossa existência enquanto sociedade e também da nossa felicidade e auto-realização enquanto pessoas, Nuno Marques salienta que “no âmbito da EM, o facto da Medicina e da Tecnologia terem evoluído tanto nas últimas décadas confronta-nos a todos com um diagnóstico cada vez mais precoce, pelo que o combate à EM pode iniciar-se mais precocemente. Em pacientes mais jovens, a sexualidade adquire uma importância acrescida, pela questão da procriação e também pelo intenso significado que a sexualidade adquire. Nestes casos, importa informar e tranquilizar a pessoa, uma vez que a ansiedade e o stress têm uma grande importância na gestão da doença e crises associadas.

Revela que, na sua consulta de sexologia do CNS, são habitualmente as pessoas mais jovens a procurarem respostas para as questões ligadas à sexualidade, enquanto as pessoas mais velhas parecem ainda fugir um pouco a estas questões, especialmente devido à educação que receberam e à visão que lhes foi inculcada acerca da sexualidade. Sendo o diagnóstico normalmente conseguido nas primeiras décadas de vida, acabam por ser os pacientes mais jovens a questionar-se e a questionarem os profissionais de saúde acerca do tema. E, como a EM é uma doença com maior prevalência nas mulheres, salienta que, devido à sensibilidade do tema, estas preferem o apoio terapêutico de outra mulher.

Como a EM pode afetar a vida sexual

Chama a atenção para que a EM pode afetar as pessoas de modo mais ou menos sistémico e causar problemas neurológicos e musculares, cansaço fácil, dormências e formigueiros que condicionam de forma significativa o bem-estar. Esta condição pode levar as PcEM aevitarem frequentemente a sexualidade devido ao incómodo dos sintomas o que, por seu turno, leva ao agravamento do stress e ansiedade, podendo haver também incompreensão e frustração por parte dos parceiros, gerando-se um círculo vicioso, refere.

Fatores fisiológicos, psicológicos, físicos, culturais e espirituais podem contribuir, no seu conjunto, e todos eles interligados, para afetar a sexualidade na PcEM. Explica que se uma PcEM se sentir muito cansada, não vai querer ter relações sexuais naquele momento e, caso o cansaço se prolongue por horas, dias, ou mesmo semanas, muitas vezes, o parceiro poderá sentir-se rejeitado repetidamente… “será por causa da doença ou por minha causa?” A nível cultural, o facto da maioria das PcEM serem mulheres coloca em jogo a expressão das suas dificuldades em contexto terapêutico. Apesar de já estarmos mais liberais em certo sentido, ainda temos uma matriz muito conservadora, sexualmente falando.

A importância de recuperar a vida sexual

Chama também a atenção para que a resolução das problemáticas associadas à sexualidade contribui para a melhoria da saúde das PcEM de forma global, uma vez que reduz o stress e ansiedade associados a uma área tão importante do nosso funcionamento e que não deve, de todo, ser desvalorizada. Todas as PcEM têm direito a uma sexualidade (e a uma vida) feliz e adaptada, como qualquer outra pessoa, remata.

Às PcEM que estão a passar por esta dificuldade mas que ainda não tiveram coragem para a assumir e procurar ajuda, aconselha quea melhor abordagem que se pode ter será deixarmos de permitir que o medo, a culpa e a vergonha dominem as nossas vidas e assumirmos que precisamos de ajuda. Costumo dizer que as pessoas que pedem ajuda psicológica não vêm só ver o terapeuta, vêm, sobretudo, tratar delas próprias. E todos merecemos uma vida feliz.

Se é importante que a PcEM se liberte, recupere a sua vida sexual, o parceiro tem um importante papel nesse sentido. Nuno Marques salienta que a melhor estratégia para reviver uma sexualidade saudável passa, (…), pelo estímulo à melhoria da quantidade e, especialmente, da qualidade da comunicação com o parceiro. O povo diz, e com razão, que é a falar que nos entendemos e, ao nível da sexualidade, mais ainda.
A experiência de nos podermos abrir e confiar no outro faz toda a diferença, tranquiliza-nos e encoraja-nos. Numa palavra: fortalece-nos. E as pessoas e os casais só ganham com isso.

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A SPEM vai lançar uma campanha sobre o tema da Sexualidade na EM com o intuito de desmistificar, esclarecer e ajudar as PcEM a derrubarem tabus e a terem uma vida sexual mais tranquila, saudável e feliz. Para nos ajudar a perceber quais os receios e dúvidas mais comuns em torno desta temática, coloque as suas questões (não precisa de se identificar) através do e-mail: [email protected]. Fique atento a mais novidades em breve nas nossas redes.

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