Protocolo entre associações de doentes e instituições de saúde privadas tem em vista colocar o doente no centro da prestação dos serviços de saúde
A SPEM foi uma das 70 associações de doentes que, no passado dia 11 de novembro, celebraram um protocolo com instituições privadas do setor da saúde, pertencentes ao Conselho Estratégico Nacional da Saúde da CIP (Confederação Empresarial de Portugal), com vista à melhoria dos cuidados prestados ao doente e à retoma urgente dos cuidados de saúde.
Segundo o Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS), citado no protocolo, por causa da pandemia, “nos primeiros sete meses do ano, houve menos sete milhões de contactos presenciais nos centros de saúde face ao ano passado (…) e menos dois milhões de contactos presenciais nos hospitais”.
Perante estes números, as associações de doentes e as instituições privadas do setor da saúde exigem “um plano extraordinário de retoma e recuperação da atividade”.
O protocolo entre Associações e instituições privadas propõe, assim, 13 medidas de implementação imediata para a retoma urgente dos cuidados de saúde destes cidadãos. Dessas medidas, destacam-se: a criação de um plano de recuperação específico para o efetivo e urgente acesso aos Cuidados de Saúde Primários; a criação de um Serviço de Apoio ao Doente nas unidades de saúde de maior complexidade e dimensão; e a garantia de acompanhamento do doente através de um “auxílio especial a todos as pessoas que dele necessitem, nomeadamente pessoas idosas” e as que “apresentem limitação das funções físicas ou mentais”.
O acesso à medicação hospitalar, uma das maiores preocupações das associações de doentes crónicos, é outro dos pontos definidos neste protocolo. O documento pressupõe a criação de um “serviço nacional de entrega de medicamentos ao domicílio, que permitirá ao utente encomendar e receber os seus medicamentos sem sair de casa”.
A desconfiança dos portugueses em relação ao SNS
Foi ainda revelada a clara desconfiança dos portugueses em relação ao SNS, demonstrada pelo estudo “Perceções Sociais sobre a COVID-19”, apresentado a 19 de novembro, pela diretora da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), Carla Nunes, na reunião do Infarmed, que juntou vários peritos para analisar a situação epidemiológica em Portugal no âmbito da pandemia de COVID-19.
Segundo a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), observa-se que, neste momento, 40% das pessoas manifestaram os mesmos sentimentos de desconfiança que revelaram em maio com “pouco confiante e nada confiante a ganharem espaço e relevância” em relação ao nível de confiança na capacidade de resposta dos serviços de saúde à COVID-19.
Quanto à confiança na capacidade de resposta dos serviços de saúde a outras doenças, o padrão mantém-se: com aproximadamente 70% das pessoas a afirmarem estar pouco ou nada confiantes neste sentido.
Alternativa ao SNS: Portugueses aumentam subscrição de Seguros de Saúde
Segundo a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), entre maio e setembro deste ano, existiu um aumento de 600 mil subscritores de seguros de saúde em Portugal (passámos de 2,5 milhões para 3,1 milhões, em cinco meses). A procura destes serviços pode, assim, dever-se à procura de meios alternativos ao SNS, dado o aumento da desconfiança no mesmo por parte da população.
“Somos tão doentes como os doentes COVID-19”
68 Associações de doentes crónicos escrevem carta aberta à Ministra da Saúde
“Senhora ministra, representamos milhões de portugueses doentes que exigem o retomar imediato da atividade assistencial nos hospitais. Não queremos ver a nossa saúde cativa”. Esta é a principal reivindicação de 68 Associações portuguesas de doentes crónicos que, no dia 1 de dezembro, publicaram no jornal Público uma carta aberta Ministra da Saúde.
“Somos tão doentes como os doentes COVID-19” é o mote deste protesto. Na carta “enviada” pelas Associações à Ministra pode ler-se que as doenças não competem entre si, considerando que o cancelamento de tratamentos, consultas, exames e cirurgias é o “muro silencioso” com o qual se confrontam.
Na missiva afirmam não poder prescindir de profissionais de saúde disponíveis, da tecnologia e da ciência necessárias a acompanhar a evolução de cada uma das patologias, de um contexto médico atualizado, continuado e disponível e de uma resposta clínica sem interrupções permanentes e sem dúvidas sobre a regularidade da assistência.