No Congresso da SPEM de 2020 conhecemos o Ekso, um exoesqueleto projetado para fins terapêuticos e que visa facilitar a marcha e o controlo postural
Durante o Congresso Nacional de EM 2020 refletiu-se sobre as perspetivas da utilização do Exoesqueleto como inovação na área da Reabilitação, bem como sobre as novas abordagens nas áreas da disfunção do aparelho urinário inferior e ou intestinal e da terapia da fala.
Na sessão paralela de Reabilitação 4.0, Rafael Calavia, diretor da Rebiotex, e Fábio Valentim, terapeuta na equipa da Neurologia do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, vieram mostrar as funcionalidades do Ekso, um exoesqueleto projetado para fins terapêuticos e que visa facilitar a marcha e o controlo postural.
O exoesqueleto permite ao terapeuta adaptar diferentes parâmetros, desde os passos da marcha (seja numa atividade assistida ou passiva), altura, distância e tempo de oscilação, enquanto o próprio caminha.
Aplicado a doentes do foro Neurológico, segundo diferentes estudos, este aparelho demonstra melhorias a nível da independência da marcha e das suas componentes, principalmente em utentes com patologias recentes (Baunsgaard 2018; Molteni 2017; Cheung 2017; Androwis 2016).
O Ekso facilita ainda a deambulação em doentes com fraca capacidade de marcha, proporcionando um estímulo para trabalhar a estabilidade e fortalecimento do tronco e dos membros inferiores, mesmo em utentes com EM severa.
No caso de pessoas com EM, o treino de marcha robotizada sugere, acima de tudo, um maior benefício a nível da sensação de fadiga e espasticidade.
No final, foi ainda apresentado a FES (Functional Electrical Stimulation – Simulação Elétrica Funcional em português), um equipamento que projeta um impulso elétrico de forma controlada, ampliando a contração muscular e permitindo melhorar a qualidade da marcha e a função da mão.
Incontinências e os seus tratamentos
Segundo Ana Povo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e médica-cirurgiã no Centro Hospitalar do Porto, 50 a 90% dos doentes com EM, ao longo do curso da doença, podem desenvolver alguma disfunção do aparelho urinário inferior ou intestinal.
A médica-cirurgiã abordou as diferentes incontinências e os tratamentos aplicados às mesmas, alertando para o facto da maioria dos doentes com sintomas de incontinência terem receio de os referir ao médico (algo que pode prejudicá-los a longo prazo e ao seu tratamento).
O tratamento existe e poderá ajudar a controlar situações de incontinência urinária, retenção urinária, incontinência fecal ou obstipação. A abordagem terapêutica começa por realizar alterações ao estilo de vida, começar uma terapêutica farmacológica, reabilitação do pavimento pélvico com realização de bio feedback e, numa fase mais avançada, existe ainda a possibilidade de autoalgaliação (para retenção urinária) e de irrigação retal (para a obstipação).
Indicada nos casos com EM, existe também a opção da neuromodelação sagrada, a qual veio dar mais qualidade de vida aos utentes com incontinência. Esta abordagem terapêutica consiste na colocação de um elétrodo que estimula a raiz do nervo de forma a controlar a micção e a defecação.
Biotecnologia e Terapia da Fala
Por sua vez, Adriano Rockland, fonoaudiólogo graduado pela Universidade Católica de Pernambuco, explicou como a biotecnologia é importante para a maximização de ganhos no processo de reabilitação da terapia da fala.
Adriano Rockland defende que, para inovar e melhorar a “situação conservadora atual”, deveriam relacionar-se diferentes técnicas/tratamentos, ou seja, apostar-se em tratamentos farmacológicos ao mesmo tempo que se recorre a biotecnologia associada à reabilitação físico-motora convencional.
Desta forma, talvez conseguíssemos alterar o desequilíbrio de citocinas pró e anti-inflamatórias e o stress oxidativo. Além disso, a biotecnologia pode, assim, proporcionar um atendimento mais personalizado, com vista a uma maior qualidade de vida do utente e a uma melhoria dos resultados das equipas multidisciplinares que o acompanham.
Como exemplo da biotecnologia aplicada a áreas da terapia da fala, o fonoaudiólogo referiu os exames de vídeoflorescência (que permite perceber o processo funcional da deglutição, avaliar se o doente consegue alimentar-se de forma segura, avaliar a produção de fala e o comportamento dos articuladores – lábios, língua, véu do palato) e de fotobiomodulação (que cicatriza tecidos moles, previne a fadiga e aumenta a resistência muscular, melhora a microcirculação e drenagem de edemas, regeneração neural, etc).
Deste modo, podemos constatar que doenças sistémicas e, principalmente, doenças inflamatórias podem beneficiar bastante desta técnica.