Como maximizar a qualidade de vida

São dois dos sintomas mais comuns na esclerose múltipla (EM), interferindo nas tarefas diárias e afetando o desempenho profissional e pessoal. Por serem invisíveis, tornam-se, muitas vezes, impercetíveis para os outros e são difíceis de descrever para quem os sente. Falamos da dor e da fadiga na EM. Conheça melhor estes sintomas e saiba como fazer a gestão dos mesmos, minimizando o desconforto e maximizando a qualidade de vida.

DOR – Sintoma persistente

Embora oculta, a dor na EM pode ser persistente e causar sofrimento a longo prazo, afetando gravemente a qualidade de vida das pessoas com esclerose múltipla (PcEM).

Este sintoma constante pode ser a consequência de músculos cansados e enfraquecidos pela EM. Uma dor mais aguda pode advir dos sinais nervosos imperfeitos, em resultado das lesões no cérebro e na medula espinal causadas pela doença.

Tipos de dor

Os especialistas classificam a dor provocada pela EM da seguinte forma:

Musculoesquelética – Pode ser causada por fraqueza muscular, espasticidade e desequilíbrio e é mais observada nos quadris, pernas e braços, sobretudo quando os músculos, tendões e ligamentos permanecem imóveis por algum tempo. As contraturas associadas à fraqueza e espasticidade podem ser bastante dolorosas, bem como os espasmos ou cãibras musculares que acontecem com mais frequência durante o sono.

Paroxística – Caracteriza-se por surtos rápidos e curtos que passam em alguns segundos e voltam. A dor facial da Nevralgia do Trigémeo é a mais comum e pode ser sentida em qualquer zona da região inferior da face. Consiste em ataques repetidos de dor intensa, como se fossem relâmpagos, que geralmente incidem na zona da bochecha, junto do nariz, ou no queixo. A dor Lhermittes é descrita como uma sensação de pontada, semelhante a um choque elétrico, que vai desde a parte de trás da cabeça até à coluna.

Neuropática crónica – É a mais comum e angustiante das síndromes dolorosas da EM. Consiste numa sensação de queimação, formigueiro intenso, picadas, dormência, tremores, sensação de pressão e maior sensibilidade ao toque, que ocorre muitas vezes nas pernas. A Neurite Ótica é outro dos sintomas dolorosos mais comuns que surge ou piora com o movimento dos olhos.

FADIGA – É cansaço e não preguiça

A fadiga é sentida de forma diferente pelas PcEM. Não é facilmente percebida pelos outros e é difícil de ser explicada. Algumas pessoas descrevem-na como um cansaço intenso, uma fraqueza geral ou falta de energia e outras sentem-se totalmente exaustas. Ela existe, de facto, mas não pode ser medida nem é visível para os outros, fazendo com que seja muitas vezes mal interpretada e confundida com preguiça, falta de disposição, desânimo ou vitimização.

Tipos de fadiga

Embora seja um dos sintomas mais comuns e preocupantes, as causas da fadiga na EM ainda não são bem compreendidas. Pensa-se que resulta de uma série de diferentes fatores, causados, em parte, pela própria EM, e divide-se em dois grupos: fadiga primária e fadiga secundária.

A fadiga primária é originada por alterações no cérebro e danos no sistema nervoso central. As alterações no cérebro podem levar a uma maior fraqueza muscular e exigência cognitiva e à necessidade de utilizar mais energia, causando fadiga. Os danos que afetam os nervos causam uma interrupção nas mensagens do cérebro e da medula espinal para o resto do corpo, fazendo com que este tenha de trabalhar mais para um normal funcionamento e levando a um consequente aumento da fadiga.

A fadiga secundária ocorre devido aos efeitos dos próprios sintomas experimentados pelos pacientes. Sintomas como depressão, dor ou distúrbios no sono, que acontecem devido a espasmos ou incontinência, por exemplo, podem piorar a fadiga da EM. Mas esta pode também surgir como efeito colateral de alguns medicamentos ou por conta da inatividade, stress, alimentação desadequada ou infeções. Aqui incluem-se também outras condições de saúde que podem contribuir para o aparecimento ou agravar a fadiga sentida pelas PcEM.

Como diferenciar a fadiga da EM da fadiga comum
A fadiga na EM…

  • Vai mais além do que a fadiga sentida, após um esforço ou uma má noite de sono, pelas pessoas que não têm a doença.
  • Pode ser física e mental e consome energia mais rapidamente, podendo impedir a conclusão de tarefas e exigir mais tempo de recuperação.
  • Pode acontecer a qualquer momento, sem aviso prévio e sem motivo aparente. Alguns pacientes sentem-na somente após atividades suaves, como escrever ou ler, e precisam de um descanso imediato.
  • Pode interferir noutras atividades simples, como passear o cão ou fazer compras, ou também após um esforço cognitivo, como trabalhar no computador e realizar tarefas mentalmente exigentes. É igualmente comum manifestar-se logo pela manhã, ao acordar, mesmo depois de uma boa noite de sono.

As PcEM podem sentir-se frustradas quando tentam explicar a sua fadiga a amigos, familiares, colegas de trabalho ou profissionais de saúde. É, no entanto, essencial que elas a descrevam a quem as rodeia com o objetivo de facilitarem as suas rotinas e a sua vida em geral. Desta forma, os outros estarão mais atentos e notarão os efeitos da fadiga, como, por exemplo, andar mais devagar ou responder mais lentamente às conversas ao final do dia, podendo oferecer assistência e apoio.

Haverá, porém, momentos em que a fadiga não será de todo percetível para os outros. É, pois, nestes momentos que as PcEM terão de ser mais criativas e recorrer a analogias e metáforas para descrever este sintoma invisível.

Algumas observações frequentes na fadiga da EM

  • Tende a piorar com o avançar do dia.
  • Surge mais rapidamente e de forma mais repentina do que a fadiga comum.
  • É normalmente mais severa do que a fadiga comum.
  • Tende a agravar-se com clima mais quente e húmido.
  • É mais provável que interfira com as atividades diárias do que a fadiga comum.

A importância da atividade física

São vários os estudos que mostram que a atividade física é uma das principais aliadas das PcEM, trazendo benefícios tanto para a manutenção da dor como da fadiga, desde que orientada por um profissional da área da educação física e pelo neurologista assistente.

Para diminuir a espasticidade e a dor muscular é importante manter-se a prática de exercício físico ou fisioterapia adaptados à condição. Os exercícios de alongamentos podem ajudar a aliviar os espasmos nos músculos fletores. Existem técnicas de relaxamento, como o relaxamento progressivo, a meditação e a respiração profunda, que podem contribuir para a manutenção da dor crónica.

A massagem, os tratamentos quiropráticos, a hidroterapia, a acupunctura, a eletroestimulação transcutânea, as compressas de calor húmido e o gelo, são também outros meios regularmente usados para tratar a dor na EM. Existe ainda terapia medicamentosa que pode ser usada no tratamento da dor e que deve ser prescrita pelo médico assistente.

A autoajuda pode também desempenhar um papel importante no controlo da dor. As pessoas que permanecem ativas e mantêm uma atitude positiva perante a vida mostram ser mais capazes de reduzir o impacto da dor na sua qualidade de vida. Afastar o stress, investir em atividades que dão prazer, manter boas noites de sono e recorrer à psicoterapia podem também ser boas estratégias para diminuir o desconforto decorrente da dor e da fadiga.

Fonte: www.msif.org

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