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A esclerose múltipla é uma doença inflamatória autoimune do sistema nervoso central

By 2023-03-20 No Comments

Estima-se que existam a nível mundial 2.8 milhões de pessoas com esta patologia, sendo a principal causa
de incapacidade neurológica de etiologia não traumática no adulto jovem. 

Para além da componente inflamatória desmielinizante, sabe-se hoje que a esclerose múltipla inclui uma componente degenerativa, responsável por agravamento da incapacidade e aparecimento de disfunção cognitiva (alteração da velocidade de processamento de informação, memória recente, atenção e função executiva), independentes da atividade inflamatória e com impacto na qualidade de vida. 

De facto, o componente degenerativo pode traduzir-se imagiologicamente com atrofia cerebral, sendo reconhecido que a atrofia da substância cinzenta cortical e profunda pode começar muito precocemente na doença, inclusivamente antes de ser feito o diagnóstico, e que pode progredir silenciosamente ao longo do tempo. 

Atualmente, os tratamentos modificadores de doença disponíveis têm impacto sobretudo na componente inflamatória da doença, embora vários fármacos já tenham demonstrado reduzir a progressão da atrofia cerebral. 

Desta forma, é essencial salientar a importância de medidas não farmacológicas que todos as pessoas
com esclerose múltipla devem conhecer para complementar o seu tratamento.

Destacam-se entre as medidas não farmacológicas reconhecidas a atividade física regular, dieta saudável, cessação tabágica, prática de exercícios para aumento da reserva cognitiva e estímulo da interação social. Além de serem um complemento relevante à terapêutica modificadora de doença, podem ser também úteis para combater as consequências do processo degenerativo. 

O exercício e a atividade física são essenciais para a saúde e o bem-estar geral e úteis no controlo de inúmeros sintomas da esclerose múltipla. Diversos estudos demonstraram que atividade física aeróbica contribui não só para uma melhoria da força, equilíbrio, função vesical e intestinal, densidade mineral óssea e função cardiovascular mas apresenta também benefícios a nível da fadiga, humor e função cognitiva (nomeadamente através do impacto positivo no humor e redução das comorbilidades vasculares). O exercício físico regular pode ainda reduzir o processo inflamatório e aliviar sintomas relacionados com efeitos secundários dos imunomoduladores. Acresce que a obesidade é um fator de risco para evolução para formas progressivas e incapacidade. Um estilo de vida ativo ajuda a aumentar a reserva do sistema nervoso e a resistência à lesão. 

Importa ainda salientar que a atividade física deve ser adaptada às preferências, capacidade física e limitações de cada doente e pode necessitar de ajustes ao longo do tempo e da progressão da doença. Procurar aconselhamento adequado, começar lentamente e aumentar progressivamente o nível de atividade, escolher locais frescos ou horas de menor calor e reforçar a hidratação são alguns pontos a considerar antes de iniciar um programa de atividade física. 

Para além de exercitar o corpo é necessário “exercitar a mente”: participar em atividades cognitivamente estimulantes é essencial para o bem-estar ao longo da vida. Criar uma boa reserva cognitiva funciona como abrir uma conta poupança no banco – o desenvolvimento intelectual através da educação e atividades estimulantes de trabalho e lazer durante toda a vida ajudam a diminuir ou retardar o impacto de lesões cerebrais associadas ao envelhecimento e/ou a patologias como a esclerose múltipla. Assim se poderá explicar porque indivíduos com o mesmo grau de lesão cerebral podem apresentar graus muito diferentes de disfunção cognitiva.

É possível aumentar a reserva cognitiva em qualquer idade através de atividades que despertem a curiosidade e a criatividade, estimulem o raciocínio e a capacidade de resolução de problemas como: leitura ou escrita criativa, jogos de tabuleiro ou cartas, desenho, pintura, palavras cruzadas ou quebra-cabeças, aprendizagem de uma nova língua, tocar um instrumento musical ou integrar um grupo (p.e. clube de leitura). 


Em suma, é importante o conhecimento do impacto das medidas não farmacológicas descritas
na esclerose múltipla, são só para reduzir o impacto da doença na qualidade de vida mas também
para aumentar a qualidade de vida apesar da doença.

 

Texto gentilmente cedido por:
Dra Inês Carvalho Neurologista

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