O EM’ Atividade, projeto realizado nos distritos de Évora e Beja, já chegou ao fim! Este Projeto, financiado pelo INR (Instituto Nacional de Reabilitação), teve como objetivo principal fomentar a prática de atividade física numa população maioritariamente sedentária, reforçando também a socialização e a interação com a comunidade envolvente e combatendo, assim, o isolamento social. Através do exercício, pretendeu-se melhorar a qualidade de vida destas pessoas, a sua saúde mental, a fadiga, a resistência e aumentar a sua massa muscular.
Os doentes com EM que até aqui não tinham o hábito de praticar desporto, tiveram a oportunidade de participar em sessões de atividade física presencialmente e online, mostrando a sua vontade em querer ser mais ativos e provarem, assim, a sua resiliência e força! 💪💪
Conversámos com os Técnicos de Atividade Física responsáveis por fazer andar o projeto na sua prática. Leia aqui:
O que vos fez aceitar este desafio de treinar pessoas com EM?
Catarina: Visto que estou a tirar o Mestrado de Exercício e Saúde na Universidade de Évora, na continuação da Licenciatura em Ciências e Desporto, sempre foi do meu interesse poder trabalhar com pessoas que têm uma patologia e poder, através do exercício físico, melhorar a sua qualidade de vida e quaisquer dificuldades que tenham, porque o melhor é observar e sentir o orgulho de que ajudamos alguém, fizemos a diferença, na sua evolução, a alcançar os objetivos de cada pessoa em particular e conseguir contribuir para o seu estado de espirito saudável, felicidade e o bem-estar. Por isso, quando me foi proposto este desafio de treinar pessoas com EM, fui pesquisar sobre a doença e desde aí, senti logo que era um desafio. Ao perceber que existiam diversas evidências que de havia imensos benefícios e que eu podia fazer a diferença, ajudando e contribuindo para a vida destas pessoas, foi logo uma decisão de um grande “SIM” e aceitei.
João: O que me levou a querer trabalhar com pessoas com EM foi o gosto de trabalhar com populações clínicas e a vontade de contribuir para uma melhor qualidade de vida dos mais necessitados.
Como decidiram os treinos das pessoas com EM e porquê? Podem dar-nos exemplos destes treinos?
Catarina: Os treinos das pessoas com EM foram decididos pelo Professor José Marmeleira em base e nós, instrutores, conforme as evidências do que já tinha sido estudado e de novas adições – como por exemplo exercícios de dupla tarefa que já tinham sido vistos como benéficos noutras patologias como o alzheimer ou em populações como os idosos. Também porque para a minha tese teria de haver algo novo, decidi avaliar o efeito de um programa de exercício combinado, ou seja, a conjugação de exercícios focados na aptidão física funcional (atividades aeróbicas, de força, flexibilidade e equilíbrio), treino em dupla-tarefa e atividades mente-corpo (exercícios de relaxamento e respiração), em diversas dimensões (físicas, cognitivas, funcionais e emocionais) em pessoas com EM.
Exemplo de treino: Através de exercícios mais funcionais e calisténicos, com a utilização de bandas, cada sessão será composta pela seguinte estrutura de exercício combinado: aquecimento (10min); aptidão física (inclui equilíbrio) (30min); exercícios mente-corpo (10-15 min); uma técnica mente-corpo (5-10 min), complementando com alongamentos. À medida que ocorrer um aumento gradual da adaptação ao treino, a intensidade aumenta. Realizar-se-ão também caminhadas, incentivando a que estas sejam praticadas de igual forma fora dos treinos.
João: Os treinos com a EM numa fase inicial foram dedicados a avaliar e preparar o corpo para o treino investindo na propriocepção e estabilidade/mobilidade articular. Numa segunda fase, foi introduzido o treino funcional que replica ações do quotidiano de uma forma geral e a estimulação cognitiva através de atividades lúdicas. Numa terceira fase, foi introduzido o treino de força mais tradicional com o peso corporal e pesos livres para o fortalecimento da musculatura locomotora mais utilizada. Em todo o projeto foram aplicados oito minutos de tai chi, seguidos de mini sessões de meditação como relaxamento no final da aula.
Este processo de treino procurou alicerçar-se em bases sólidas de consciência corporal e gradualmente introduzir o treino mais tradicional de força, dando a conhecer as sensações que um doente pode experienciar, ao investir o seu tempo na sua saúde de forma ativa e dinâmica. Foi tido em especial importância o autocontrolo no aparecimento de fadiga precoce. Cada praticante agiu com plena consciência e responsabilidade, interrompendo a atividade sempre que necessário.
Que resultados demonstram a melhoria da qualidade de vida das pessoas com EM que treinam no projeto?
Catarina: Ocorreu uma evolução da autonomia, com resultados naturalmente muito benéficos em termos de melhoria da mobilidade, performance, resistência à fadiga e ao cansaço, ganho de massa muscular com o aumento da produção de força, diminuição das dores musculares, melhoria das ações do dia-a-dia, melhoria da consciencialização corporal e equilíbrio. A nível cognitivo também ocorreram resultados positivos. Os participantes superaram obstáculos e só adicionam objetivos, já não têm tanto receio.
João: Os praticantes gostaram de treinar e de ter o compromisso para com a sua saúde. Não apenas na qualidade do movimento, mas notei acima de tudo na motivação para fazer exercício.
Que desafios apontam para a prática atividade física com pessoas com EM?
Catarina: Os desafios passam muito pela gestão da fadiga, por uma maior preocupação na individualização do treino de cada pessoa, por conseguir perceber e monitorizar o esforço e o estado das pessoas na sua prática. O objetivo é tentar mudar o pensamento das pessoas, para conseguirem ultrapassar a preguiça e a fadiga, e educá-las que os resultados não são algo evidente, mas que se vão construindo à medida do tempo, é preciso resiliência e dedicação e só assim aparecem as melhorias.
João: O maior desafio está na heterogeneidade dos grupos. Infelizmente é uma doença imprevisível no que à incapacidade diz respeito e as tarefas tinham de ser simples de forma geral com pouca variação, mas progressivamente intensas. Este tipo de atividade também deve ir ao encontro à individualidade de cada um. Outro desafio a salientar é a escassez deste tipo de projetos que facilitam o acesso a treinos adequados às necessidades da doença.
Qual a importância da prática de atividade física para estas pessoas?
Catarina: Através dos resultados referidos anteriormente dá para perceber que a importância de realizar qualquer tipo de atividade é essencial e não pode faltar na vida das pessoas. No entanto, como existe uma maior incapacidade e degradação das funcionalidades das PcEM, ainda é mais necessário a sua prática, com o foco principal em melhorar a sua qualidade de vida e a gestão das tarefas do dia-a-dia com maior facilidade, atenuando outros sintomas que a doença lhes traga.
João: A atividade física proporciona uma sensação de superação e autorealização. A disciplina para com o ato de treinar é o principal motivador e a melhoria da sua qualidade de vida é um objetivo sempre presente. O exercício é saúde e está provado que previne imensas complicações de saúde, às quais os doentes de EM estão sujeitos e pode até ser a resposta para a melhoria que tanto procuram.